Estudo traça perfil da mulher desempregada na RMSP

Para celebrar as três décadas de realização da Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de São Paulo – PED/RMSP, a Fundação Seade apresenta uma série de pequenos estudos com o objetivo de demonstrar tendências e mudanças de inserção no mercado de trabalho de segmentos específicos da população. Com esse propósito, o segundo desses estudos trata do perfil da mulher desempregada.

A série histórica da PED/RMSP, iniciada em 1985, contempla períodos de importantes mudanças socioeconômicas no país e das mais profundas transformações da inserção da mulher no mercado de trabalho.

Entre 1985 e 2013, a taxa de participação feminina – indicador da proporção de mulheres com dez anos e mais incorporadas ao mercado de trabalho como ocupadas ou desempregadas – aumentou de forma espetacular, ao passar de 44,7% para 55,1%, enquanto a masculina diminuiu de 77,1% para 70,6%.

A maior participação feminina no mercado de trabalho ocorreu pela elevação tanto na ocupação como no desemprego. Entre 1985 e 2013, a proporção de mulheres no total dos ocupados cresceu de 36,9% para 45,9% – em contraposição à dos homens que diminuiu de 63,1% para 54,1% – e a proporção de mulheres no total de desempregados aumentou de 48,8% para 52,7%, enquanto a dos homens reduziu-se de 51,2% para 47,3%.

No biênio 1985-86, a taxa de desemprego feminina correspondia a 14,0%, mas chegou a 21,3% em 1999-2000, diminuindo para 12,1% em 2012-13. Embora sempre acima da taxa masculina, sua diferença reduziu-se ao longo dessas três décadas, passando de 59% superior à dos homens, em 1985-86, para 32%, em 1999-2000, e 30%, em 2012-13.

Muitas mudanças das características das desempregadas refletem, em grande medida, alterações da população total, tais como o aumento do nível de escolaridade. Neste quesito, inverteu-se a relação entre as mulheres com o ensino médio completo e superior incompleto e aquelas menos escolarizadas, que eram maioria: no biênio 1985-86, as mulheres analfabetas ou que não completaram o ensino fundamental representavam 64,8% do contingente feminino desempregado e aquelas com ensino médio completo ou superior incompleto correspondiam a 11,9%, proporções que passaram para 15,1% e 49,3%, respectivamente, no biênio 2012-13.

Os movimentos ocorridos entre as mulheres desempregadas por faixas etárias refletem não só o envelhecimento da população em geral, mas também as políticas de combate ao trabalho infantil – no caso das meninas de 10 a 15 anos – e a maior frequência à escola, com o adiamento da entrada no mercado de trabalho pelas jovens de 16 a 24 anos.

Em relação à posição no domicílio, as filhas e as cônjuges continuam sendo maioria entre as desempregadas, mesmo tendo ocorrido retração entre os períodos 1985-86 e 2012-13. A redução da proporção de filhas desempregadas, provavelmente, está refletindo sua maior dedicação aos estudos e as melhorias das condições de rendimento das famílias e das conjunturas do mercado de trabalho.

As cônjuges registraram decréscimo menor, o que pode estar associado ao aumento entre as chefes de domicílio, que dobraram sua proporção no total de desempregadas: de 6,5%, em 1985-86, para 12,8%, em 2012-13. Esta ampliação deve-se ao maior número de mulheres que se declaram chefes do domicílio, sejam elas ocupadas, desempregadas ou inativas.

A maior taxa de desemprego da população feminina negra (13,8%, enquanto a de não negras era 11,2%, em 2012-13) demonstra a dificuldade desse segmento em conseguir uma ocupação. Possuir duas das características de maior segregação no mercado de trabalho – mulher e negra – tem sustentado essa situação ao longo do tempo, uma vez que, no que se refere à composição no desemprego, estas parcelas cresceram em contraposição à redução entre homens e não negras.

Outra característica em que houve alteração refere-se à faixa etária do filho mais novo. No início do período analisado, as mulheres com filhos de até cinco anos de idade representavam a maioria das desempregadas (54,8%) e aquelas com filhos de seis anos ou mais perfaziam 26,8%, invertendo-se essa relação no biênio 2012-13, quando a maior concentração passou a ser entre as que tinham filhos maiores (40,8%) do que aquelas com filhos menores de seis anos (34,0%).

Certamente, a idade dos filhos influencia na procura por um tipo específico de trabalho – com jornadas menores ou mais flexíveis e em estabelecimentos mais próximos de sua casa ou da escola dos filhos –, pois, quanto menores são os filhos, maiores são a relação de dependência e a necessidade de encontrar uma ocupação com tais características. Isso se reflete na taxa de desemprego das mulheres que têm filhos menores de seis anos (14,2%), equivalente ao dobro da taxa das que possuem filhos com seis anos ou mais (6,8%), no biênio 2012-13. Tal relação praticamente não se alterou ao longo do tempo: em 1985-86, estas taxas correspondiam a 16,2% e 7,9%, respectivamente.

Esses aspectos, além de demonstrarem os grandes avanços da inserção da mulher no mercado de trabalho, também servem para destacar as causas e consequências das desigualdades de gênero e justificam a necessidade de estudos e análises que tratem da questão de uma forma mais integrada às políticas públicas, como, por exemplo, em relação às creches e escolas em tempo integral.

 

Assessoria de Comunicação da Fundação Seade

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