Cuidados com filhos, idosos e afazeres domésticos dificultam a presença das mulheres no mercado de trabalho

O boletim 1ª Análise nº 21, da Fundação Seade, estuda o efeito das atividades de cuidados da casa e família na vida profissional feminina, na Região Metropolitana de São Paulo - RMSP.

De acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED, elaborada pelo Seade-Dieese, do ponto de vista da renda média familiar per capita real e da existência de filhos na família, as mulheres mais pobres sofrem maiores constrangimentos para sua participação no mercado de trabalho.

Em 2012, do total de mulheres inativas com filhos de até 12 anos de idade na família, na RMSP, mais da metade (53,7%) pertencia ao primeiro grupo familiar, com renda per capita média de R$ 221,00 (cada membro da família recebia em média esse valor). Já nos estratos superiores, em que provavelmente as mulheres podem contar com alguma retaguarda, como empregada doméstica e/ou creche, o porcentual de inativas diminui significativamente, sendo de 24,7% para aquelas incluídas no segundo grupo familiar com renda per capita média de R$ 562, 13,65% no terceiro grupo e 8,0% no quarto grupo, cujas rendas médias per capita equivaliam a R$ 928 e R$ 2.730, respectivamente.

Da mesma forma, quando se distribuem as “inativas” classificadas no trabalho de afazeres domésticos (40,5% do total de inativas), segundo o critério de renda média familiar per capita, observa-se que 39,9% compõem o grupo das mais pobres, seguidas em proporções bem menores por aquelas que fazem parte dos terceiro e quarto grupos, com 19,6% e 14,7%, respectivamente.

Entre as inativas dedicadas aos afazeres domésticos que são esposas, 37,5% pertenciam ao primeiro grupo de renda e somente 16,0% estavam no quarto grupo, ou seja, quanto maior a renda menor é a proporção de mulheres nesse papel. Dessas mulheres, 74% estavam no grupo de idade produtiva (25 a 59 anos de idade); 42,7% eram analfabetas ou com fundamental incompleto, enquanto 34,1% possuíam ensino médio completo mais superior incompleto e 4,7% tinham o superior completo; 67,9% eram negras e quase metade (47,2%) possuía filho de até 12 anos de idade.

Pela pesquisa, algumas mulheres argumentam que não estão no mercado de trabalho porque não têm quem cuide dos filhos e/ou devido aos afazeres domésticos.

As mulheres ocupadas em atividades remuneradas na RMSP, em 2012, estavam  majoritariamente inseridas no setor de serviços (70,5%) e, 25% daquelas pertencentes às famílias mais pobres tinham menor grau de formalização (apenas 37,6%) do que os homens (55,4%) nessa mesma condição social. Quase 30% dessas mulheres pobres estavam inseridas como empregadas domésticas.

Com relação à jornada média semanal, a das mulheres no trabalho remunerado (38 horas) era inferior à dos homens (43 horas), em 2012. Segundo a renda familiar per capita, as mulheres pertencentes ao grupo das 25% mais pobres realizavam a menor jornada (36 horas), sendo sete horas a menos que a dos homens dessa mesma classe de renda. Já as 25% mais ricas possuíam a menor diferença (quatro horas) em relação à jornada dos homens do mesmo nível de renda. Como ter filhos na família implica cuidados familiares, muito provavelmente, também, por isso as mulheres realizam uma jornada remunerada inferior à dos homens, os quais, por sua vez, como não são exigidos culturalmente a cumprir tais responsabilidades, estão mais disponíveis para o trabalho remunerado.

Cabe acrescentar a significativa desigualdade na remuneração entre as mulheres das diferentes classes de renda média familiar per capita: as do grupo mais pobre recebiam (R$ 625) em torno de 23% do que auferiam as de famílias mais ricas (R$ 2.676), o que dificulta, para as primeiras, almejar, entre outros, os meios que poderiam facilitar maior dedicação ao trabalho remunerado, seja em relação à sua qualificação, seja quanto à posse de equipamentos que reduziriam e/ou auxiliariam no seu tempo de trabalho não remunerado.

Constatou-se ainda que os rendimentos das mulheres em famílias que não tinham filhos (R$ 1.666) ou possuíam filhos maiores de 12 anos (R$ 1.395) eram superiores ao daquelas pertencentes a famílias com filho de até 12 anos (R$ 1.254).

Destaca-se ainda que o tempo de desemprego para as mulheres com filhos pequenos na família é de seis meses superior ao dos homens, sendo que, quando não possuem filhos o tempo é igual para ambos os sexos.

Para encerrar o ciclo de desvantagens das mulheres que, que em grande parte, acumulam as atividades remuneradas com as não remuneradas, verificou-se que elas se aposentam em menor proporção, e com valor inferior do benefício, que os homens.

 

Assessoria de Comunicação da Fundação Seade

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